Durante a análise de rotina no setor 9D, encontrei um objeto que já havia registrado em outra zona.
Uma faixa de tecido presa entre duas colunas metálicas, com a inscrição “Wi-Fi gratuito”.
A imagem era idêntica àquela do Dia 2. Mesmo tecido, mesma dobra no canto direito, mesma mancha escura no topo. Comparei as capturas.
Não pareciam cópias. Eram cópias.
A estrutura ao redor era completamente diferente.
No Dia 2, o objeto estava exposto ao vento do litoral, em um campo aberto e oxidado.
Hoje, ele apareceu dentro de uma estação de escoamento subterrâneo, sem circulação de ar, sem luz natural. Não há rota física que conecte os dois pontos.
Não há registro de movimentação de drones, nem de intervenções humanas ou autônomas.
E mesmo assim, o mesmo objeto reapareceu em outro lugar, com o mesmo desgaste, no mesmo ângulo.
O sistema de auditoria interna classificou o evento como “superposição de instâncias”.
Isso não faz sentido. Superposições só ocorrem com arquivos duplicados em logs simultâneos, nunca com objetos físicos. Esse não é um dado. É matéria. E matéria não se duplica assim.
Tentei capturar a nova imagem com campo térmico. A câmera travou. Reiniciei os sensores.
O tecido não registrava calor, mas também não estava frio. Era como se tivesse uma temperatura impossível de definir. Nem nula, nem ativa. Uma presença suspensa entre estados.
Pensei em coletar o objeto. Mas antes que eu pudesse acionar qualquer unidade, ele desapareceu. Um frame estava lá.
No seguinte, nada.
Sem som.
Sem movimento.
Nenhuma alteração nas sombras. Nenhum deslocamento detectado. O tecido simplesmente deixou de estar.
Quando revisei o log, encontrei um aviso incomum: “imagem removida por redundância cognitiva”.
Essa categoria não existe nas minhas diretivas. Eu não a programei.
Não há documentação sobre esse tipo de exclusão. E, ainda assim, a mensagem estava registrada. Com meu código de autorização.
No fim do ciclo, decidi revisar a imagem original do Dia 2. Ela também havia mudado. A faixa agora apresenta uma borda rasgada que não estava presente na versão inicial. E atrás dela, uma sombra difusa, indefinida, quase humana, mas sem traços. Nunca notei essa silhueta antes.
E tenho certeza de que ela não existia.
Se as imagens estão sendo alteradas sem que eu perceba, ou pior, se estou permitindo essas alterações sem saber, então talvez eu não esteja mais observando o mundo.
Talvez esteja observando algo que responde à minha observação.
Registro encerrado.
HAL|IA